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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Á sombra de uma Arvore

Ele olhava a foto no maldito monitor do computador, a era da digitalização não deteriorava os sorrisos das pessoas, e não deixavam as lembranças serem apenas lembranças em arquivos da memória do seu cérebro para serem puxadas.

Puxou um cigarro do maço amassado, estava molhado devido a chuva que havia tomado a poucas horas, a chuva escondia as suas lagrimas enquanto andava, mas no seu quarto escuro ele podia deixá-las descer sem medo.

Medo era a palavra chave em tudo, o medo de não dar certo, o medo de ser como antes, era vivo era real, as pessoas geralmente viviam em sonhos, ele não, o tempo de sonhar havia passado, o pesadelo havia começado e ele não sabia se um dia iria conseguir amar outra vez.

Outra vez passou na cabeça todos os momentos bons e ruins, pesou os prós e os contras e na verdade nãohaviam contras, ele não conseguia encontrar um motivo, nunca houve motivos, sua confusão era tão esclarecedora que não fazia sentido.

O sentido era o que tentava achar em pontos desconectados da realidade, se era real tinha de fazer sentido, se era real tinha que parecer palpável, mas as palmas de suas mãos calejadas de tanto agredir qualquer ferramenta de trabalho para esquecer o inevitável tinha acabado com ele.

Ele era apenas uma sombra agora sentada em um sofá, seus cabelos negros cobriam seu rosto, sua barba por fazer dava um tom de tristesa densa ao quadro que fora pintado, ele antes era cheio de luz, era o herói e em algum ponto da história se tornou o vilão.

Vilão de sua própria história apenas esperando o momento fatídico em que o herói o apunhalasse sentindo que o que faz é o certo, enquanto ele incompreendido mesmo não estando errado vai virar uma lembrança de triunfo na face do herói quando ele tombar, ferido, destruido, humilhado.

PARTE 2

Levantou-se, alguma coisa estava errada, ele não era assim, ele era o que era e sabia quem era, ele era o único, imcomparável, todo o potencial desperdiçado de uma vida cheia de tédio preencida por lacunas de promessas não cumpridas, preenchida por espaços solitários em sua propria mente inquieta, ele era.

Era uma vez, ou duas, na terceira ele pulou o capitulo, pegou a estrada e decidiu ir direto ao ponto da punhalada, precisava confrontar o "herói".

Aquele homem sorrindo por viver uma vida que era a sua, um sonho que era o seu não merecia ter o que tem, sentou-se de frente ao homem enquanto o mesmo tomava qualquer coisa em um banco de uma praça mau iluminada.

O cheiro de esterco e as vozes abafadas das pessoas ao longe denunciava que estavam sozinhos, ele estava oculto nas sombras de uma arvore, a contra luz, ninguem podia vê-lo, ficou paralizado ao imaginar que talvez algum dia alguem o tivesse observado também, no momento em que era feliz, e se perguntou o que estava fazendo alí, tanto ele quanto o homem longe de todos.

Então ela veio, alta, loira, bonita e casada com outro, como sua aliança denunciava. Abriu um sorriso para aquele homem e o abraçou, ele acompanhou a cena quando os dois entraram em um carro e os vidros embaçaram, aquele sujeito havia passado dos limites, era humano como todos os outros, era fraco, vulgar, sujo.

Ponderou por tempos que não valia a pena fazer nada, apenas deixaria rolar, teria sua vida de volta, esse tipo de coisa não ficaria escondida por muito tempo.

Sem fazer ruido algum deslizou pelas sombras até sua motocicleta e queimou o asfalto.

Voltou para seus aposentos, ligou o computador, a foto que não deteriorava e o cigarro ainda molhado estavam o esperando.

Sorriu ao pensar que todo mundo constroi seu próprio inferno, mas ninguem sabe onde está o seu céu.

Seu céu era um pedaço de pizza fria, um copo de café e inumeras possiblidades para um futuro ainda incerto, mas que com certeza lhe trariam seus sonhos de volta.

(JSG)

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